Microplásticos - Problema antigo ganha uma nova forma
Léo Ramos Chaves - Revista FAPESP
Da fossa das Marianas, no oceano Pacífico, aos Alpes, das praias de Fernando de Noronha às grandes metrópoles, os microplásticos estão em toda parte, em geral sem serem vistos. Análises cada vez mais detalhadas apontam para o caráter onipresente desses fragmentos, esferas, pedacinhos de filmes ou de fibras de plástico com até 5 milímetros de diâmetro ou extensão e frequentemente micrométricos. Eles já foram encontrados não apenas no ar que se respira, em ambientes terrestres, marinhos e reservas de água doce, mas também na água de torneira e engarrafada, no sal marinho, no mel, na cerveja, nos frutos do mar e em peixes consumidos pelo homem e, por consequência, nas fezes humanas.
“Os microplásticos têm grande potencial para alterar a biota e o ecossistema oceânico do nosso planeta como um todo”, diz o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais. “Esse tipo de poluição tem efeitos ainda não totalmente entendidos e quantificados. Precisamos de muita pesquisa científica para caracterizar o material e estudar a extensão de sua distribuição, suas concentrações, seus efeitos nos ecossistemas e sobre os seres vivos e como removê-lo do meio ambiente.”

Apesar de eles já terem sido detectados em organismos de todos os níveis da cadeia alimentar, ainda não há evidências de que as partículas bio-acumulam e biomagnificam ao longo dela, ressalta Turra. Bioacumulação é um processo pelo qual substâncias são assimiladas e acumuladas nos tecidos dos organismos, enquanto biomagnificação é um fenômeno relativo ao acúmulo progressivo de substâncias de um nível para outro ao longo da cadeia alimentar. “Diferentemente de outros poluentes, nos quais há uma concentração maior nos predadores do topo da cadeia alimentar e não na base, no caso dos microplásticos isso não parece acontecer.” Aparentemente, as partículas assimiladas pelos organismos são, cedo ou tarde, excretadas.
Exercício 1
Considerando as questões apresentadas no texto, assinale a alternativa correta:
- a) Microplásticos são resíduos de origem antrópica que têm alto impacto nos ecossistemas, bio-acumulando-se nos organismos e transmitindo-se pelos níveis tróficos.
- b) A presença de microrresíduos plásticos nos diferentes produtos para consumo humano (como mel e peixes) tornam-os impróprios para o consumo, devido à toxicidade de polímeros plásticos, sendo altamente biocompatíveis.
- c) A falta de compreensão da extensão do impacto de resíduos microplásticos é consequência da escassez de pesquisa do assunto. Desta maneira, investimentos em pesquisas ambientais têm o potencial de medir o impacto de um dos materiais de insumo mais importantes da civilização moderna.
- d) Considerando que o impacto de macroplásticos (resíduos plásticos maiores do que 5mm) é mais entendida, uma solução para eliminar microplásticos é fundir todos resíduos microscópicos em resíduos macroscópicos obtidos de resíduos domésticos e descartá-los em aterros sanitários ou lixões.
- e) Tratamento de esgoto seria capaz de impedir eliminar todos microplásticos do meio ambiente, filtrando pedaços microscópicos provenientes de roupas feitas de fibras sintéticas.
Exercício 2
Existe uma preocupação maior com poluentes que são bioacumulados, não sendo metabolicamente eliminados com o tempo e fixando-se nos organismos, podendo causar sérios sintomas. Quais das seguintes alternativas não é um poluente bioacumulável?
- a) mercúrio
- b) chumbo
- c) pesticidas organoclorados
- d) arsênio
- e) radiação gama
Exercício 3
Diferentemente de outros poluentes, nos quais há uma concentração maior nos predadores do topo da cadeia alimentar e não na base, no caso dos microplásticos isso não parece acontecer.
Por que esperaríamos encontrar uma concentração maior de microplásticos em predadores caso esse tipo de poluente fosse bioacumulável? Por que a presença de poluentes bioacumuláveis é especialmente preocupante?